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  • Foto do escritorJoão Henrique Oliveira

Ascensão elétrica

Atualizado: 12 de nov. de 2019

Indústria automotiva investe no sucesso de carros sustentáveis.

Os carros ecologicamente corretos têm se popularizado num mundo cada vez mais consciente dos impactos dos automóveis no meio ambiente e preocupado com a sustentabilidade do planeta. Na Noruega, os veículos elétricos correspondem a 45% das vendas de carros novos, enquanto a China comprou 55% dos mais de 400 mil desse tipo vendidos no mundo ano passado. No Brasil, por outro lado, a oferta desses modelos ainda é bem pequena se comparada aos mercados europeu ou americano, mas desde o fim de 2018 – com o anúncio do programa ‘Rota 2030’ feito pelo governo – alguns modelos novos começaram a ser vendidos.

Alguns deles são o Nissan Leaf – que vendeu mais de 365 mil unidades em oito anos -, o Renault Zoe e o Chevrolet Bolt. Além desses, pode-se destacar o híbrido Toyota Prius, vendido no Brasil há mais de cinco anos, sendo o veículo ecológico mais vendido da história mundial, assim como o BMW i3, o primeiro veículo elétrico vendido oficialmente no Brasil, desde 2014. Foi o Rota 2030 – programa de incentivos para tecnologias de eficiência energética para automóveis anunciado pelo governo brasileiro no fim de 2018, em substituição ao antigo ‘Inovar Auto” – que possibilitou cortes no IPI de carros elétricos, que passou a ser de 7%, ao invés dos 25% cobrados anteriormente.





Apesar de serem vendidos no Brasil, os elétricos e híbridos ainda não são uma realidade para muitos brasileiros.

Apesar dos recentes cortes nos impostos, a quantidade de veículos ecológicos que circulam nas ruas brasileiras ainda está longe de ser comparada a países como a Noruega.  De acordo com dados de 2018 do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), no Brasil, há somente 300 elétricos em circulação, um número muito baixo para um país de dimensões continentais. Contando com os híbridos, em 2018, foram emplacadas 4000 unidades, ainda um número muito pequeno em relação ao total de 2 milhões de carros vendidos ano passado no país.


Um dos principais motivos para o baixo número de veículos elétricos e híbridos no Brasil é o alto preço de compra. Para efeito de comparação, o Toyota Prius – o modelo híbrido mais barato à venda no país – custa pouco mais de R$125 mil.  Já o Toyota Corolla, da mesma marca e equivalente em alguns quesitos, custa a partir de R$80 mil. Para o Diretor de Comunicação da Renault do Brasil, Carlos Henrique Ferreira, há outros fatores que implicam em vendas baixas. “Aqui ainda faltam informações para o consumidor, assim como políticas públicas para o estímulo de soluções de baixo impacto ambiental. Desde 2013 vendemos carros elétricos no país para empresas e projetos de mobilidade sustentável. A partir do Salão do Automóvel do ano passado, passamos a oferecer o Zoe para todos os clientes”. destaca.


Ao alto preço na compra, soma-se o fato de a infraestrutura para recarga de modelos elétricos ser praticamente inexistente no país, limitando-se apenas a poucos pontos de recarga nas grandes capitais. Isso inviabiliza o uso desses modelos em regiões mais remotas do Brasil, pois a autonomia desses veículos é menor do que os equivalentes a combustão, sendo necessário recarregar o carro mais de uma vez por viagem.




Por outro lado, em São Paulo, algumas medidas foram implementadas para incentivar a compra e o uso de carros elétricos, como a isenção de metade do valor do IPVA, além da isenção do rodízio. Ainda assim, a procura por modelos mais sustentáveis está num ritmo devagar, apesar de ter começado a dar seus primeiros passos. Para muitos brasileiros, os carros elétricos ou até mesmo híbridos ainda são uma realidade distante. Não é o caso de José Nivaldo, que possui um Toyota Prius há quase dois anos. “O carro é bastante econômico, confortável e é o meu primeiro veículo híbrido. Futuramente pretendo comprar outro modelo desse tipo”.


Pensando justamente nos consumidores que estão indecisos em relação aos carros ecológicos, as concessionárias têm buscado se adaptar aos novos perfis de compradores e melhorando a estrutura da loja. Edelson Melo, vendedor, afirma que a procura por modelos híbridos tem aumentado. “Acredito que com novos investimentos e propaganda, as vendas terão um crescimento mais expressivo em curto prazo”. Em relação ao perfil dos consumidores, ele cita que, no geral, as pessoas interessadas nesses modelos têm uma condição financeira melhor, se mostram por dentro das tecnologias embarcadas nos veículos e se preocupam com o meio ambiente.


Ainda nas concessionárias, o investimento em tecnologias para reparo e pós venda de carros ecológicos tem crescido nos últimos anos. O gerente de concessionária Anderson Ramos ressalta que, apesar de se tratar de uma tecnologia recente, a manutenção dos modelos híbridos é simples: “As baterias são de longa duração, mas devem ser trocadas – ao fim da vida útil – nas concessionárias, que as encaminham à montadora”. Postura semelhante é adotada pela Renault, que reaproveita as baterias recolhidas após o fim da vida útil, estimada em dez anos. “Temos soluções de reciclagem e também de reutilização das baterias para outras funções, como, por exemplo, o armazenamento de energia gerada por fontes renováveis, como eólica e solar. É o que chamamos segunda vida”, diz Carlos Henrique.




Apesar de as montadoras terem um programa de troca de baterias, o descarte delas ainda é motivo de preocupação, pois se não for feito corretamente, as baterias podem contaminar o meio ambiente. Outro fator é em relação à origem da energia utilizada por esses veículos, sendo necessário também investir em fontes de energia renováveis e limpas. “Se a energia utilizada para recarregar o veículo numa tomada vier de uma termelétrica – na qual se obtém a energia pela queima de carvão -, como na maioria dos países europeus e asiáticos, em uma conta de larga escala, cada kW usado representará mais poluição do que um o litro de gasolina ou diesel queimado na combustão”, ressalta João Anacleto, jornalista automotivo.


Além das revendedoras, alguns condomínios já contam com infraestrutura para recarga de carros elétricos no estacionamento dos prédios. Angelina Ferreira, que possui um carro elétrico há um ano, mora em um desses condomínios. “Sempre que volto do trabalho, de noite, plugo meu carro na tomada do estacionamento e na manhã seguinte já tenho autonomia suficiente para mais alguns dias de uso”, conta.






Mesmo que os preços dos elétricos e híbridos ainda sejam mais altos do que os de modelos a combustão, os custos de manutenção são menores, o que pode ser vantajoso para os compradores. Para Gabriel Aguiar, jornalista da revista Quatro Rodas, esses veículos tendem a se popularizar em poucos anos na Europa e nos Estados Unidos. “Considerando um prazo de até 15 anos, consigo imaginar esses mercados muito mais eletrificados. Acredito que a popularização dos carros elétricos estará diretamente relacionada às políticas públicas e exigências do governo, como aconteceu na Europa”, afirma.




E para quem pensa que os carros ecologicamente corretos são menos empolgantes do que aqueles a combustão, João Anacleto mostra o contrário. “Para quem curte velocidade, é legal ver um carro com cara de Honda Fit, como o Chevrolet Bolt, acelerar de 0 a 100 km/h mais rapidamente que um VW Golf GTI, por causa do torque máximo instantâneo ao sair da inércia”. E ele ainda ressalta: “Outro ponto bem interessante dos carros elétricos é a simplicidade do sistema. Não há transmissão, marchas, nem nada do tipo. Há um motor em cada eixo, em alguns casos um por roda, e as baterias. Só”.


Os carros elétricos e híbridos ainda são uma realidade distante da maioria dos brasileiros, mas recentemente foi possível notar um avanço no número de opções desses veículos no país. Mesmo com os preços elevados, limitações de autonomia e infraestrutura de recarga praticamente inexistente no Brasil, eles se mostram uma tendência inevitável, já sendo uma realidade na Europa e nos EUA. E, assim como tecnologias como o câmbio automático, que antes eram muito caras e hoje se popularizaram, os modelos ecológicos vão gradativamente substituir os equivalentes à combustão. Resta saber quantos anos eles levarão para conseguir isso no Brasil.





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